terça-feira, 18 de setembro de 2007

Cuidado com o andor porque o santo é de barro (Ou, cuidado com o ardor, porque o Deus é fabricado)

Meus filhinhos, cuidado com os falsos ídolos! I João 5.21

Normalmente nos sentimos desobrigados quanto ao mandamento de manter-nos livres da idolatria, pois, fomos condicionados a pensar em ídolos apenas figuras (imagens) de deuses (santos) em forma de pedra, madeira, etc. Nesse caso, por ausência de figuras desse tipo em nosso meio, pensamos: idólatras, são os outros. Grande equívoco!
Ao se criar uma figura (imagem, imaginação, idéia) empresta-se a ela não apenas uma determinada forma, mas também uma série de características. Por ser objeto de fabricação é sempre menor de quem a fabricou. Nesse caso, quando se tenta imaginar a figura de “Deus” o privamos de suas características próprias, tornando-o uma caricatura, nesse caso,um falso deus. No AT, por exemplo, quando da retórica de alguns profetas na referência ao ídolo quanto à sua constituição, a alusão não é à imagem (a figura), mas, a sua inoperância (não ouvir, não andar, etc).
Será então que idólatras realmente são os outros? Vejamos. Não vamos muito longe. Imagens não são feitas apenas de gesso, barro ou madeira. São feitas também de desenhos e de palavras. É possível, portanto, que numa determinada linguagem encontremos todos os constitutivos de uma imagem em barro, madeira ou gesso. Por exemplo, quando se canta: “Quero ouvir tua voz, tocar em ti, ver tua face, ouvir teu coração, me deter em teus braços” o que se faz? Uma imagem. Empresta-se todas as características humanas conhecidas para quem não se deixou aprisionar por nenhuma delas. Quando fazemos nossos sermões, ou nossos compêndios doutrinários e dizemos que Deus faz isso ou aquilo, age dessa ou dessa maneira e engessamos esse “dito, ensino”, fabricamos também, dessa forma uma imagem. Pensando ser a voz de Deus, poderemos ao contrário, ser a única voz presente.

Cuidado com o clamor, porque o Deus é fabricado!

Diante da advertência feita pelo autor de I João, gostaría de propor uma reflexão diante de três perigos que corremos quando somos idólatras.

1. Fazer Deus à nossa imagem e semelhança (talvez não na forma, já que herdamos a Européia). Nesse caso, Deus então gostaria do que nós gostamos, aprovaria o que nós aprovamos e sentiria repulsa pelo que nós sentimos;
2. Tornar Deus incompreensível. Muitas vezes a imagem que as pessoas têm de Deus é a imagem dos seres humanos (incoerentes, ilógicos, perseguidores, intolerantes, preguiçosos, gananciosos, falsos, desleais, etc.);
3. Inverter os papéis, tornando Deus nosso servo e fazendo-o se comprometer com nossa agenda. Foi assim que se justificou a Inquisição, as Cruzadas, a Escravatura e é assim que se justificam os embates religiosos em nosso meio (internamente) e em nossos relacionamentos na sociedade.

Um comentário:

André Egg disse...

É Uipirangi,

que texto forte. Preciso. Somos os mais idólatras de todos.

Estou em grande crise com esta noção de um Deus "pessoal" (com atributos de pessoa, com vontade, etc.). O fundamentalismo apresenta isso como uma doutrina fundamental da fé. Mas eu echo que está mais para idolatria...