domingo, 10 de janeiro de 2016

Uma coleira com amor....


* Para facilitar nossa vida (minha, particularmente, desculpe a redundância) vou dizer antes o que deveria vir no Post Scriptum: "Se você está feliz, encontrou a luz, a força, está bem contente, com tudo ideal e tem a receita certa, está liberado/liberada de ler esse texto. Nem perca seu tempo.


** Escrevi esse texto em meio a netos, comecei às 7.50 quando acordei, não revisei, então, releve erros, imprecisões.



Uma coleira com amor....


Não é de hoje que a avaliação de Liberdade nos circunda, abunda e desabunda, seja enviesada por Agostinho, Stuart Mill, Espinoza, desembocando em Lewis,  J.K. Rowling, Tolkien ou E.L. James, para citar alguns (Escolha quase aleatória, há motivos subjetivos conscientes e outros nem tanto para a lista), até os celebres efeitos do casal Face/Instagram em que fotos descontextualizadas dos textos, muitos, inclusive acompanhados de um pot-pourri (Nem perca tempo, essa é a forma correta de escrita) de "sem noçãozisse". 


Enfim, somos assombrados pela falsa associação entre escolhas livres e "escolhas"impostas (se é que me entendem). Não levem a mal, a fronteira é muito tênue, principalmente, porque as justificativas são tão bem elaboradas que chegamos a ver amor nos olhos de satã. Particularmente, vivo migrando de Kant para Hegel e, eventualmente, saio no jaguar de Foucault à noite (não pelos mesmos motivos). Estou seriamente tentado a substituir o termo liberdade por escolhas e consequências, num ad infinitum


Embora não confunda "sentir-me" bem como sou livre ou "vou fazer" o que quiser porque a vida passa logo, etc., acho relevante tocar en passant  o tema. Como boa parte de minhas férias (duro, careta, sistemático, sem graça) passo contando histórias para os netos, falo-ei (lembrei-me de Jânio Quadros, os mais antigos vão saber o motivo) relembrando uma das histórias que contei para o neto mais velho (6 anos no momento).


Na fábula "O Lobo e o Cão" (La Fontaine) há um trecho bem sugestivo do dialogo entre o Lobo já quase seduzido pelo cão para ter uma vida "lobobesca"(nababesca) se decidisse sacrificar (Numa versão contemporânea de auto ajuda: acomodar-se, aproveitar a oportunidade, ter visão, sair da zona de conforto, deixar a velha vida)  sua natureza (Vamos tomar aqui como sentido o que escolheu para si. Essa opção é possível porque é justamente isso que La Fontaine propõe para os humanos, uma troca metafórica). Vamos lá:


*(O Lobo e o Cão, transcrita sem observar o novo acordo ortográfico, salvo onde o corretor ortográfico deu piti).

"- (Cão) Mas você também pode levar uma vida boa, assim como eu. Abandone a floresta, vá viver entre os homens e seja feliz.

- (Lobo) É mesmo? E o que devo fazer entre os homens?

- (Cão) Quase nada. Somente guardar a casa, pôr a correr os pedintes, fazer agrados aos donos...Coisas assim.

O lobo já se via morando nos jardins de uma casa esplêndida e tranquila, sem saudades dos tempos quando tinha de brigar muito para sobreviver na floresta. Então, reparou em algo em volta do pescoço do cão.

- (Lobo) E o que é isto?

- (Cão) Não é nada, é só uma coleira. Meu dono a usa quando quer me prender.

- (Lobo) Quer dizer que você não é livre para ir onde e quando quiser?

- (Cão) Claro que não. Tenho dono. Mas de que serviria ser livre?

- (Lobo) Pois faça bom proveito de sua boa vida! - Desejou o lobo, disparando para a floresta. E até hoje continua a correr."


Bom, desculpe atrapalhar seus sonhos e suspiros (mesmo que você creia firmemente nisso) eu não acredito em Liberdade. Acredito em escolhas constantes seguindo o modelo matemático: Custo/Benefício, calculados rigorosamente (Não como fazem os lêmures durante o período de provas). Ao contrário do que possam pensar, esse é um exercício extremamente rigoroso (claro, sem esconder-me de  Tique e seu disfarce romano, Fortuna, temperamentais, aliás, como todas ou todos do "Olimpo ou de seus correlatos"), já que, entre outras coisas nos tornamos eternos boticários....E olha, visitar a botica (Não boteco, embora, às vezes funcione) é entediante....

Finalizo, por fim, recorrendo ao filosofo* Alexandre Pires: O que eu que eu vou fazer com essa tal liberdade? Bem, Por enquanto, aos 51, vou teimar em reconhecer coleiras.


*Não há porque não premiá-lo assim, se afinal, até a bumbumdusca,  desculpe, popozuda (ato falho?), foi (por uma alteração mediático-genética, se é que me entendem) alçada a categoria de grande pensadora.



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